A crise econômica dos últimos anos fez muita gente repensar gastos do dia a dia e mudar os hábitos. Um dos mais evidentes é o transporte. Com o aumento no preço dos combustíveis, reajuste no preço dos veículos, dos seguros, muitos resolveram se adaptar. Dehon Junior trocou as idas ao trabalho feitas por carro e moto pela bicicleta. A ideia inicial era manter a forma durante a pandemia.
“Não teve tanto efeito econômico. Por que eu moro a 3 quilômetros do trabalho e ia de moto. Agora vou de bicicleta e faço um percurso maior para ter uma rodagem mínima – e saio de caso na mesma hora. Não mudou minha rotina de sair”
A mudança feita para solucionar dois problemas de uma vez – pode ter sido mais acertada do que ele imagina. Um estudo da Universidade Federal do Semiárido (UFERSA) calculou para cada faixa de renda da população de Mossoró (RN) a velocidade efetiva de cada tipo de transporte. Na prática a ideia é dizer qual seria o transporte mais adequado para os deslocamentos na cidade.
Os resultados obtidos pelos pesquisadores Mário Leite e Eric Ferreira mostram que, para a maioria dos trabalhadores, os meios de transporte ativos – a caminhada e a bicicleta – são os de maior velocidade efetiva. O estudo da velocidade efetiva, ou velocidade social, foi criado para orientar os governos em relação a investimentos públicos em mobilidade.
“Para Mossoró só vai piorar, já que não temos nenhuma política de mobilidade que não seja a focada no carro e na moto. Hoje Mossoró tem menos ônibus circulando que naquele tempo [2015], nenhuma política de calçadas foi planejada, ou sequer fiscalizada, nenhuma ciclovia foi projetada.” afirmou o professor e autor do estudo, Eric Ferreira.
Após uma série de metodologias criadas pelos pesquisadores, se chegou ao resultado surpreendente. De dez faixas de renda pesquisadas, para as sete mais baixas (quem ganha menos que R$ 10.800,00 por mês) a bicicleta é o que tem a maior velocidade efetiva. E mesmo nas três maiores a bicicleta é sempre uma das melhores opções.
“Nos países ricos a bicicleta brilha, é vista como modernidade, salvação do planeta… Em país pobre e em desenvolvimento a bicicleta é símbolo de quem é fracassado, de quem ainda não conseguiu comprar um carro. A parcela do salário que o pobre tem sacrificar para ter mobilidade é superior a das outras classes. Isso causa uma ‘imobilidade’ aos pobres. Calçadas e ciclovias ajudariam a mitigar[o problema]”, afirmou Eric Ferreira.
Na população de maior renda (quem ganha mais de R$ 21.600,00 por mês) a maior velocidade efetiva é da motocicleta do tipo Biz, depois empatados vem um carro modelo GOL e a bicicleta.
Analisando a renda média da cidade de Mossoró e as velocidades médias por diferentes modos de transporte, pode-se concluir que a bicicleta obteve uma velocidade efetiva superior aos outros modos – entre 9,88 e 16,0 km/h. Esse resultado mostra o excelente custo/benefício da bicicleta.
Os carros populares só começam a ser mais efetivos a partir do quinto nível de renda – ou seja, quem ganha até R$ 2.160,00 por mês. “Mas os automóveis tiveram quase sempre resultados inferiores aos das motocicletas e bicicleta. Isso mostra que o seu custo social é alto para grande parte da população local: o trabalhador tem de pagar um preço muito alto para se deslocar para economizar apenas alguns minutos”.
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