Quase 1 hora da manhã, o telefone do pequeno comerciante do bairro Aeroporto começa a tocar. A chamada pelo aplicativo Whatsapp era um alerta para que ele lesse as mensagens de ameaça. O homem do outro lado da linha mandava áudios dizendo que eles estariam atrapalhando os negócios da facção criminosa, e pedindo dinheiro para preservar a vida.
“Mandou vários áudios ameaçando. Dizendo que tinha várias pessoas na esquina da minha casa que estavam só esperando um sinal deles para resolver a situação. E foi logo dizendo endereço da minha casa, características, o que tinha em frente a minha casa, com o que a gente trabalhava…e isso já ameaçando de morte”, afirmou o comerciante.
A ousadia era tanta que os criminosos começaram a fazer ligação por chamada de vídeo. Isso deixou a família do comerciante desesperada.
“A minha esposa entrou em desespero, começou a chorar. Então ligue para o 190, eles me atenderam, acalmaram minha esposa. E foram logo dizendo que iam mandar uma viatura, mas que isso era um crime que estava acontecendo muito. Pediram para não mandar dinheiro, não atender, e bloquear o número”.
O portal TCM Notícia conversou com outros três comerciantes que também receberam as ameaças. Apenas um fez a transferência pedida pelos criminosos. Todos foram abordados de madrugada, em todos os casos as ameaças eram associada a facções criminosas insatisfeitas com a atuação do comercial, e em todas, os golpistas tinham muitas informações sobre a rotina e vida dos empresários.
O método
O golpe se trata de uma extorsão praticada com a chamada engenharia social. Como eles tinham tanta informação sobre os comerciantes? Tudo pode estar disponível para qualquer um através das redes sociais.
Para o delegado Alex Wagner, titular da Divisão de Polícia do Oeste (Divipoe), o crime é bem comum e conhecido, mas tem usado novas formas de iscas para atrair vítimas.
“Este tipo de crime acontece em todo o país, a cada minuto. Mas muitas vezes estes criminosos não estão nem na mesma cidade que as vítimas. Basicamente eles pegam estas informações de duas formas: nas redes sociais as pessoas expõem tudo, informações sobre a família, sobre a rotina, onde moram… E a outra forma é um companheiro que conhece a região passar informações”.
O delegado afirma que apesar de muitas vezes estes criminosos estarem em outros estados, a identificação deles é possível, mas para isso é preciso que mesmo quem não caiu no golpe preste queixa.
“Não é impossível chegar ao autor destes crimes. A tecnologia pode nos ajudar a identificá-lo e puni-lo”, afirma o delegado Alex Wagner.
Poucos denunciam
Segundo a Polícia Civil, apesar de saber dos casos é difícil investigar por que poucos denunciam. Apenas dois boletins de ocorrência foram registrados nas últimas semanas sobre o caso.
“A gente acredita na sub-notificação. Muita gente sendo vitima e não denunciam. Mas as pessoas têm que procurar a polícia. Não tenham medo e não façam nenhuma transferência”, afirmou o delegado Cristiano Lopes de Melo.
Confira a fala completa do delegado, Cristiano Othon de Melo sobre os casos de extorsão contra comerciantes de Mossoró.
A Polícia Militar em Mossoró notou aumentou neste tipo de golpe nas últimas semanas. Para o subcomandante Sávio Diomédes, o golpe pode ser dificultado com alguns cuidados com as redes sociais.
“Com o desenvolvimento da tecnologia, o crime também vai acompanhando estas tendências. [] Quem está do outro lado da linha vai usar da sua fragilidade para obter da própria vítima novas informações. E muitas pessoas com o uso das redes sociais se expõem muito”