A despedida de Padre Sátiro Cavalcanti Dantas nesta semana aos 93 anos, comoveu não só a comunidade católica, mas diversas pessoas que tiveram suas trajetórias marcadas por ele em algum momento da vida. Foi o que aconteceu com o cirurgião Hugo Amorim.
Conhecido como o padre educador, Sátiro Cavalcanti acreditava no poder da educação para transformar vidas. Quando em 2003, Hugo saiu da cidade de Umarizal e entrou na sala da direção para pedir uma bolsa para estudar no Colégio Diocesano, o Padre lhe estendeu a mão e deu uma oportunidade.
“Eu morava e estudava na cidade de Umarizal, e meus primos, que tinham estudado já no Colégio Diocesano como bolsistas, me estimularam a vir estudar em um colégio maior, em busca de uma educação de melhor qualidade. Então, no início de 2003, eu saí com um deles, que é Raimundo Neto, para conversar com o Padre Sátiro. Eu entrei na sala, ele estava sentado na cadeira, perguntou qual era o objetivo da conversa. Nós humildemente pedimos uma oportunidade, para estudar lá através de uma bolsa”, conta Hugo.
O médico lembra que na época a mensalidade da escola eram em torno de R$ 200, um valor que os pais dele não podiam arcar. Sincero, Padre Sátiro pediu para que o jovem pensasse em quanto ele conseguiria pagar para estudar lá, e voltasse no outro dia com a resposta.
“Ele falou que eu fosse para casa, pensasse e voltasse no dia seguinte com a resposta, de acordo com o que o meu coração dissesse. Eu voltei no dia seguinte e disse que conseguia pagar algo em torno de R$ 50 reais”, relembra.
Padre Sátiro aceitou a contraproposta de Hugo com uma condição: ele teria que passar por média em todas as disciplina e nunca reprovar. E assim aconteceu. O médico fez jus a oportunidade dada pelo padre, e por diversas vezes foi aluno destaque na escola.
“Já aluno do colégio, eu começava a me destacar nas Olimpíadas de Química. Quando saia o resultado e eu ficava numa colocação boa, ele falava no alto falante: ‘Hugo Amorim, por favor, compareça a sala da direção’. Lá ele me parabenizava e me estimulava para eu continuar estudando, e me entregava uma sacola cheia de chocolates. Falava que era para eu comer, restabelecer as forças e continuar estudando para o próximo desafio”.
Passados alguns anos, Hugo concluiu o ensino médio, passou no vestibular de medicina, concluiu a faculdade e se tornou cirurgião torácico. Depois de 20 anos, ele ainda guarda consigo a gratidão da oportunidade dada pelo padre, e todas as vezes que recebe presente de algum paciente, lembra do padre com carinho.
“A grande contribuição que o Padre Sátiro me deu foi ter acreditado, na honestidade que eu mostrei naquele momento. Ter acreditado no meu potencial, na seriedade, no meu desejo realmente de crescer, de ter maiores conhecimentos e com isso ajudar o próximo”, diz.
Hoje, Hugo carrega mais de Padre Sátiro do que apenas memórias, mas também o seu legado na educação. Além de atuar como cirurgião no Hospital Walfredo Gurgel, em Natal, ele também é professor de medicina, e se dedica a passar seu conhecimento para jovens estudantes, como ele um dia foi.
Para ele, a partida de Padre Sátiro deixa um vazio, mas também um legado que ainda vai perpetuar diversas gerações.
“Tem pessoas que bastam existir pra serem importantes na humanidade, e ele era essa pessoa. Somente a existência dele já fazia muita diferença na vida de muitas pessoas”, afirma.
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