Como já confessei por aqui, sempre que esbarro nos bloqueios criativos me reencontro comigo mesmo em anos passados. Esses dias me vi às voltas de uma pesquisa autobibliográfica para iniciar a construção de uma palestra. Nesse percalço (que gosto muito, registre-se) garimpei rabiscos outrora assinados pela minha pena quando de uma viagem intelectual pelos caminhos que já percorri. Compartilho, reescrevo e reúno retalhos de mim mesmo. Ver o que não foi visto. Escrever o que não fora escrito. Nesse flashback acadêmico revisitei o capítulo 1 de Cantares, um primor da poesia latina e discorro um pouco sobre esse colóquio.
O poeta espanhol Antônio Machado apresentou-se a mim como um alento para tantas inquietações. Perguntas que não tinham respostas porque o caminho ainda estava em construção. E assim continua. Não é fácil encontrar a simplicidade no caminhar. E falo aqui sobre qualquer área da vivência dos sujeitos. O simples não aceita enfeites. A simplicidade não está nas vitrines das lojas, nos cofres dos milionários, nos perfis da internet ou nas bancas de jornal. A simplicidade mora em nós, mas habita um lugar que é invisível aos olhos. Muitas vezes não sabemos aonde procurar. Ela se mostra no instante em que o humano assume seu lugar dentro de si mesmo. Essa foi uma das descobertas que este caminho inacabado me mostrou. Um caminho em que os mundos sutis, leves e gentis de Machado, desenharam trilhas que ficaram para trás e se apagaram em cada novo passo. Não há caminho. O caminho se faz ao caminhar.
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