Escrevo a coluna desta semana ao som de uma das canções que mais gosto e que ouço desde a mais tenra infância quando o LP do meu pai bailava na radiola em 33 rotações por minuto. Chorando e Cantando. Uma prosa poética composta e musicada pelos geniais Geraldo Azevedo e Fausto Nilo. A junção magnetizada da arte do Pernambuco e do meu Ceará.
Quando fevereiro chegar, saudade já não mata a gente. É assim que a melodia ganha verbo e a letra nos convida a perambular por nós mesmos. Nesse percurso pessoal a gente ri, a gente chora. Transita pelas sensações. E sim, há noites que mais parecem dias. Intermináveis. Ou (in) começáveis. No janeiro que passou, então… O calendário se espreguiçou e não ambicionava nos entregar um novo mês. Mas ele veio.
Fausto e Geraldo nos oferecem uma canção absurdamente real. Em cada verso uma infinidade de possibilidades, pensamentos, reflexões.
Já confessei aqui que vez por outra mergulho nas entrelinhas das estrofes. Gosto disso. É um exercício de autoconhecimento. De ressignificação. De vida e existência.
Submerso nos acordes prendo o ar e abro os olhos no fundo do quinto verso. Não há como discordar da arte quando ela nos toma e nos faz ver a força que fala à inteligência do coração. Ninguém. Ninguém verá o que eu sonhei. Só o amor é capaz de enxergar e viver o mesmo sonho. E quão extraordinário é quando isso acontece.
Lá no fundo do oceano da arte, faz silêncio. É possível ouvir apenas o movimento do sangue percorrendo cada recôndito do nosso corpo, bombeado ritmadamente pelas batidas do coração.
Emergindo à superfície quem de nós não encontra os próprios medos? Os desafios? As incertezas? É parte da jornada crer ou desacreditar de tudo. Mas a chama continua no ar. É possível perceber que somos maiores. Que o sorriso quando acordar nos reveste de força e coragem. De repente lá estamos nós como um reluzente astro incandescente.
Se você, querido(a) leitor(a), ainda não conhecia essa canção, já que fevereiro chegou sugiro que invista cinco minutos do seu dia para ser abraçado pela arte, se procurar e se encontrar (ou não) nas estrofes. Nem sempre a gente precisa se achar. Estar perdido por vezes é parte do caminho.