O sol ainda não tinha dado trégua quando Xavier Pimentel chegou a Mossoró. Veio devagar, passo firme, mochila nas costas, suor misturado à poeira da estrada. Não desceu de ônibus, não pediu carona, não encurtou caminho. Ele chegou como veio desde o dia 1º de julho de 2025: a pé. O Rio Grande do Norte é só mais um capítulo de uma travessia que pretende entrar para a história.
Natural de Pernambuco, mas residente em Alagoas, Xavier atravessa o Brasil pelas BRs com um único objetivo persistente: ser o primeiro brasileiro a percorrer os 26 estados e o Distrito Federal caminhando, de ponta a ponta, e registrar o feito no Guinness Book. No RN, ele já passou por Natal, Assú e agora Mossoró, de onde já seguiu viagem pela até Fortaleza, no Ceará.
A jornada começou em Maceió, à meia-noite e quarenta e sete do dia 1º de julho. Desde então, são mais de cinco meses na estrada. Já São 167 dias de desafio, 94 deles de caminhada ativa, tudo monitorado pelo GPS, com registro de quilometragem, ritmo, sono, hidratação e até pressão arterial. Nada é improviso. Cada passo é uma prova.
Xavier carrega no corpo a experiência de quem já disputou 15 maratonas oficiais. Esta travessia é a 16ª. Mas não se trata de velocidade ou pódio. É resistência. Em média, ele percorre até 100 quilômetros a cada ciclo de 20 horas, intercalando caminhada forte e tiros curtos de corrida para não deixar o corpo “esfriar”, como conta. Dorme onde dá. Às vezes em pousadas solidárias. Outras, escondido no mato, longe da luz dos faróis, enrolado em um lençol, depois de limpar espinhos e confiar no silêncio da madrugada. A técnica para um sono seguro parece uma manobra de sobrevivência. O corredor procura espinheiros pois é o local que bichos peçonhentos não se aproximam.
No RN, como em outros estados, a estrada também virou espaço de encontro. Restaurantes abriram portas. Caminhoneiros ofereceram água. Moradores simples dividiram o pouco que tinham. Uma das histórias que Xavier carrega com mais peso na mente e no coração aconteceu ainda no sertão potiguar, perto de Fernando Pedroza. Com sede extrema, sem água há quilômetros, foi socorrido por um catador de latinhas que esvaziou tudo o que tinha para ajudá-lo. Minutos depois, esse mesmo homem pediu água a um caminhoneiro. Xavier seguiu em frente sem olhar para trás. Disse que não teve coragem, pois notou que naquele gesto, a pessoa que menos tinha abdicou de tudo para saciar alguém que acreditou precisar mais naquele momento. É esse tipo de sabedoria que apenas situações extremas são capazes de ensinar: como abrir mão do pouco em favor do outro. “É isso que a estrada ensina”, resume. “Quem tem menos, às vezes, é quem mais dá.”
Xavier completa 56 anos nesta quinta-feira, dia 25 de dezembro. Ele costuma dizer que não caminha sozinho, que segue com a “Alexa e o Brasil inteiro”. A referência é ao sistema de monitoramento que o acompanha, mas também às milhares de pessoas que acompanham cada etapa pelas redes sociais, torcendo, ajudando, vibrando. Tudo é documentado. As divisas dos estados, os trechos mais duros, as chegadas às cidades, os perrengues e as vitórias silenciosas.
O Rio Grande do Norte aparece para ele como terra de acolhimento. Em Natal, foi recebido por comunicadores, policiais rodoviários e populares. Em Assú, encontrou apoio. Em Mossoró, ganhou descanso, voz e espaço para contar sua história. Daqui, seguiu para o Ceará. Depois, seguir para o Maranhão. Fecha o Nordeste a pé. Em seguida, encara distâncias ainda maiores: Tocantins, Roraima, Amazonas. Só esse trecho soma mais de 3 mil quilômetros. O destino final é o Rio Grande do Sul.
Sem patrocínio fixo, Xavier depende da solidariedade. Saiu de Maceió apenas com a mochila. Conta com doações espontâneas, refeições solidárias e contribuições via Pix, divulgado em suas redes. Ele faz questão de alertar: não é uma aventura irresponsável. É projeto estudado por anos, com preparo físico, planejamento e acompanhamento técnico.
No asfalto quente das BRs que cortam o RN, Xavier Pimentel não corre atrás de fama. Corre atrás de um limite que disseram não existir. Cada cidade que ele atravessa vira testemunha do seu esforço. Mossoró agora faz parte dessa história que ainda está sendo escrita, passo por passo, no ritmo do corpo, da estrada e da coragem.























































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