Mesmo tendo sido criado na década de 1960, os cigarros eletrônicos – chamados popularmente de “pendrives” – se tornaram mais famosos no Brasil e em Mossoró/RN nos últimos anos. Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) geralmente começam a ser usados tanto por curiosidade, quanto como forma de substituir o cigarro tradicional.
Com diferentes formatos e sabores, os vapes caíram no gosto dos jovens. De acordo com a pesquisa Datafolha de fevereiro deste ano, 3% da população brasileira acima dos 18 anos de idade faz uso diário ou ocasional desses dispositivos. Quando considerados os brasileiros acima dos 18 anos, são cerca de 4,7 milhões de vapers.
Paulo Corrêa, pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), explica que o que mais preocupa os especialistas em relação ao vape é a quantidade de substâncias químicas desconhecidas que o usuário inala quando fuma: “A dependência se instala rapidamente, como todas as condições determinadas pelo cigarro comum e pelo cigarro eletrônico […] O cigarro eletrônico é especialmente preocupante, para nós especialistas, porque no ano passado foi descoberto que ele tem quase duas mil substâncias químicas, e a maioria das substâncias são desconhecidas. Então a totalidade dos riscos associadas à utilização de cigarros eletrônicos também é desconhecida”, afirma Paulo Côrrea.
M, 23 anos, já costumava fumar outros tipos de cigarros, e em 2019 começou a usar vape. M conta que a vontade de fumar surge sempre que está ingerindo álcool, e que apesar de nunca ter apresentado nenhum problema de saúde atrelado ao vape, pensa em parar de usar: “Eu sempre penso em parar de fumar, o problema é toda vida que a gente bebe, vem aquela vontade infernal de fumar um cigarrinho. Mas eu penso em parar, até porque não é uma coisa da minha rotina, é coisa de beber e sentir vontade”, relata M.
Por liberar uma fumaça com aroma mais agradável, muitos usuários acabam acreditando na ideia de que os vapes são menos prejudiciais do que os cigarros tradicionais, mas o problema está justamente na composição do produto, que é ainda mais artificial do que a dos demais. “No cigarro eletrônico a gente tem um filamento que vai aquecer o líquido. Esse filamento tem metais como níquel, latão, cobre e outros. Esses metais então são inalados pelo fumante e vão provocar doenças. O níquel nos usuários de cigarros eletrônicos é de 2 a 100 vezes maior, do que os níveis dos que são usuários dos cigarros industrializados”, explica o pneumologista.
Apesar de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibir desde 2009 a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil, os vapes continuam sendo encontrados facilmente para a venda, seja em sites especializados na internet, ou em tabacarias. Em Mossoró é possível comprar tanto de vendedores ambulantes em festas, em conveniências, quanto no instagram.
“Compro com muita facilidade. Nas lojas no instagram, tenho amigos que vendem também. Tem ambulante em toda festa vendendo junto com bagana”, diz M, 23 anos.
Os aparelhos que variam entre descartáveis e recarregáveis, além da quantidade de “puxas” (tragadas), possuem uma quantidade alta de nicotina. Segundo informações do Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram encontrados nos vapes uma quantidade de 0 a 36 mg de nicotina por mililitro, sendo no cigarro normal permitido apenas 1 mg de nicotina por mililitro. Em média, em um cigarro tradicional o fumante consegue dar 15 tragadas. Num maço com 20 unidades, são 300 tragadas. Sendo assim, um vape que contém 1.500 tragadas equivale a cinco maços de cigarro comum.
Além dos riscos encontrados no cigarro convencional, os eletrônicos apresentam ameaças próprias, como é o caso da doença respiratória aguda grave, que pode levar ao transplante de pulmão ou até mesmo a morte. Especialistas do Instituto do Coração (InCor) afirmam que os usuários de cigarro eletrônico aumentam em 42% a chance de infarto e em 50% a chance de ter asma.
Com o aumento do uso dos vapes no país, no mês passado a diretoria da Anvisa se reuniu para debater a regularização dos cigarros eletrônicos no país, e decidiu manter a proibição deles no país. Para o pneumologista Paulo Corrêa, só proibir o uso não é suficiente, é preciso que as entidades públicas se comprometam em colocar a lei em prática. “Ela [Anvisa] tem que se por a trabalhar com outros entes. Com a Polícia Rodoviária Federal, polícia federal, sanitária, municipal e estadual visa portes e efetivamente fiscalizar. Então a lei só vai ser respeitada se as pessoas forem multadas, se os sites forem fechados, se as pessoas forem presas, responsabilizadas e multadas”, afirma Paulo Corrêa.